PAINEL TÁTICO
Um Brasil entre chegar e ficar no ataque
A Sérvia deu tudo o que o time brasileiro precisa para brilhar: espaços. Ainda mais com Paulinho no time.
A explicação para a dificuldade do Brasil nesta Copa do Mundo não reside no emocional de seus jogadores ou na falta de qualidade do time, mas sim na preparação dos pequenos. A negação de espaços perto da área foi a tônica do empate contra a Suíça e a suada vitória contra a Costa Rica, quando Tite lançou mão de uma ideia próxima da tradição de Guardiola para lidar com o intenso bloco defensivo do rival.

Se há um contexto no qual o Brasil rende, este contexto é o espaço. Nas Eliminatórias, as equipes que conseguiram causar alguma dificuldade foram aquelas que fecharam muito bem a área brasileira e afastaram Neymar, Paulinho e Jesus das bolas em profundidade para a projeção do trio em direção ao ataque. O movimento é chamado de infiltração: a corrida, de frente para o gol, esperando o passe a ser feito. Na década de 1970, Cláudio Coutinho chamava de "ponto futuro" o espaço no qual o jogador ia receber a bola.

A Sérvia veio a campo sem entender o contexto no qual o Brasil rende melhor. Ao se defender, proporcionava aquilo que o time mais queria: espaço. Sua linha de defesa avançava bastante. Veja que existe a compactação - a medida que diz se uma linha está próxima da outra - mas a primeira linha, aquela com Jesus lá na esquerda, fica bem longe da área.

Esse movimento não foi provocado apenas por uma questão de jogo da Sérvia. Foi atraída pelo Brasil também. É aí que entra um dos conceitos mais repetidos por Tite em coletivas: a saída sustentada. É o momento da saída para o gol, quando o ataque começa seus primeiros rabiscos. A chave para esse tempo é concentrar pelo menos 5 ou 6 jogadores brasileiros no próprio campo, próximos, e ir tocando curto, de pé em pé. Parece desleixo, mas a intenção é fazer com que o adversário avance a marcação, ande alguns metros e deixe sua defesa desprotegida. Observe bem como os laterais não ficam abertos como na tradição europeia, ou como o lateral sempre procura fechar junto aos zagueiros.

Muito dessa saída sustentada tem por via possibilitar uma proteção defensiva ao Brasil. Se alguém perde a bola, há 5 ou 6 jogadores para correr em diagonal e fechar o raio de ação de seu adversário. Trata-se de uma ação também de defesa. Mas como defender e atacar são coisas conjuntas, veja o desenrolar do lance: marcação da Sérvia atraída, a bola é rapidamente invertida ao trio central. Pode estar borrado, mas os brasileiros estão correndo, cientes da defesa da Sérvia totalmente quebrada e desorganizada. Tudo aconteceu na junção da saída sustentada, que atraiu mais sérvios para o campo do Brasil, e o passe, o instrumento de engano entre a frente de defesa e ataque do Brasil. Foi na conexão entre Paulinho e Coutinho que o gol aconteceu. Primeiro, havia espaços. Segundo, Paulinho não estava na área, ele chegava na área. Veja o preciso momento do passe que ele recebe. Olhe a linha da Sérvia, toda desconectada, e a inteligência do camisa 15, que percebeu o passe saindo e viu a possibilidade de receber a bola na frente. No ponto futuro de Coutinho - do Cláudio e feito por Philippe. No segundo tempo, a Sérvia viu um jogo de imposição muito grande do melhor zagueiro brasileiro há tempos: Thiago Silva. Tempo de bola perfeito no gol e companheiros com grande consciência defensiva. Casemiro perfeito nas coberturas da linha de quatro. Neymar mais aceso. Um jogo grande contra um adversário nada fácil. O futebol brasileiro tem uma tradição de acreditar na relação do jogador com a bola, no chamado toque de bola - toca, ultrapassa, chega e empurra ao gol. É um futebol de constante movimento, onde o passe é o conector, mas a corrida é o instrumento de quebra de defesa. Essa maneira de pensar o ataque é o oposto da Alemanha, que acreditou - sem sucesso - na capacidade de estar no ataque sempre, seja com 6 ou 7 jogadores. O Brasil gosta de chegar. Em velocidade, na corrida. Quando precisa ficar, como contra a Costa Rica, vai mal. Mas é jogando a mil que cresce e prova seu favoritismo.

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28/06/2018
Fonte: Leonardo Miranda
 
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