Eram 47 minutos do segundo tempo de um clássico nervoso e desgastante.
Pois Caio Henrique deu combate em Arrascaeta e, de primeira, passou a bola a Airton. O volante lançou Yony na esquerda. O colombiano correu, olhou e cruzou para Luciano, entre a linha da grande área e a marca do pênalti, finalizar e marcar o gol da classificação para a final da Taça Guanabara.
Em cerca de 25 metros, quatro toques na bola de primeira feitos por quatro jogadores diferentes. Gol. Um lance que resumiu a superioridade do Fluminense sobre o Flamengo, quinta-feira, no Maracanã, e o modelo implantado por Fernando Diniz.
Desde a pré-temporada, o treinador defende o estilo de troca de passes curtos e jogo ofensivo. O estímulo dado nos treinos à criação de espaços para receber a bola do companheiro gerou a jogada de improviso do gol.
Um prêmio a quem teve a coragem de não mudar mesmo encarando um adversário melhor tecnicamente, fruto de um investimento de pouco mais de R$ 100 milhões. Detalhe: frente a um grupo tricolor formado na base de trocas, negócios de ocasião e jogadores da base.
Pois Diniz fez o que prometeu fazer. Na véspera do clássico, descartou mudar. Reforçar a marcação diante do Fla? Negativo. Ele disse entender que, caso o fizesse, iria rasgar sua ideia de futebol e enfraquecer o time. Dito e feito.
O Flu sempre buscou o gol e encontrou um oponente que esperava o erro. Com a vantagem do empate, o Rubro-Negro queria o contragolpe. Adotou uma postura de reação. Neste panorama, os comandados de Diniz tiveram mais posse de bola, mais finalizações e muito mais passes trocados
Mesmo sem conseguir efetividade na frente, a postura foi mantida.
Basta ver a comparação de posse de bola tricolor entre primeiro e segundo tempo: 59,55% a 63,29%, em outro dado do Footstats. Ou seja: quando mais precisou, a equipe adiantou a marcação e insistiu no plano de jogo. Fez o gol sem o tradicional chuveirinho na área.
- Em nenhum momento eu pensei em mudar. O que temos de fazer é deixar o modelo cada vez mais equilibrado. Em uma formação ofensiva, não necessariamente você dará mais espaços. Por isso, precisamos de ajustes e isso se aprende com o tempo. Quando o time está junto, compactado, não se corre muitos riscos. Estamos evoluindo, atacando de forma mais consciente e sem deixar espaço para o adversário - comentou Diniz.
Claro que, como o próprio treinador falou, a atuação não foi perfeita. Por vezes, a insistência em sair jogando sem dar chutão gerou riscos.
Matheus Ferraz teve dificuldade em alguns lances. Ezequiel deu pouca opção para tal. Marlon marcou bem, mas ainda pode contribuir mais na frente. E Daniel fracassou na tentativa de repetir as boas atuações da temporada.
Não à toa vieram as trocas no segundo tempo, antes do gol, claro. E logo, uma surpresa. Dodi. Depois, as saídas dos laterais Ezequiel e Marlon para as entradas de Calazans e Caio Henrique. O meio passou a ser diferente: Airton na base, Bruno Silva pela direita, Caio pela esquerda e Dodi centralizado. Calazans atuou aberto pela direita e Everaldo, pela esquerda. E os dois homens da frente, Luciano e Yony, se movimentaram muito. Mesmo com tantas mudanças, o padrão de jogo se manteve.
Se Luciano fez o gol, o Flu teve em Everaldo um atacante que encarou a marcação. E em Airton, um volante que, ao melhorar a forma física, soube combater e distribuir o jogo.
- Futebol é isso: ter inteligência, disposição e coragem para usar os espaços que existem. Começar lá de trás é fundamental. Rodolfo sabe jogar com os pés, mas o time precisa se mover para criar os espaços. É ensaio, treino, repetição que gera confiança para executar as coisas no jogo - acrescentou Diniz.
Após a derrota para o Vasco na fase classificatória, o Flu precisava ganhar um clássico para começar a consolidar o modelo. O fez. Agora poderá dar um novo passo, um título. Domingo, diante do mesmo Vasco.
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